ESTRANHAS III - O CICLO DA INTIMIDADE
ADVERTÊNCIA:
O texto abaixo é a continuação da história iniciada na postagem de 04/08. Caso você esteja entrando aqui pela primeira vez, CLIQUE AQUI e leia o início da história!
O CICLO DA INTIMIDADE
- Alice? – disse Diego, ao perceber que sua
namorada não estava mais do seu lado – Cadê tu?
Voltou por onde tinha vindo, e, a poucos metros,
encontrou Alice parada, apoiando uma das mãos na parede enquanto a outra
segurava a testa.
- Ei! Tá bem?
- Sim... só uma maluca que esbarrou em mim e eu
acabei batendo com a testa na parede. Olha eu tenho quase certeza que ela fez
de propósito viu! Sorte que ela teve, porque se tivesse demorado mais um
segundo eu tinha segurado pelos cabelos, aí ela ia ver só!
–Pessoal tá cada dia mais sem educação. Vamo!
Chegam.
- Então... Tá entregue... missão cumprida!
- Você não vai espe... valha! Meu ônibus!
- Vai! Corre!
Foi quase um milagre passar no meio de toda aquela
gente, subir e ainda conseguir sentar-se do lado da janela:
“Nossa, ainda bem!
Sabe como é difícil conseguir ir pra casa sentada a
essa hora? Mas... quer saber... valeu a pena... tudo: ônibus lotado, galo na
cabeça... tudo! Sabe, quando a gente encontra alguém que faz você se sentir
como se já tivesse conhecido essa pessoa durante toda sua vida, você nem vê
essas coisas como sacrifício, sabe? Hah... é estranho como tem gente que
convive comigo a mais tempo e que não tem comigo a mesma intimidade que eu
tenho com o Diego”.
Foi quando Alice imediatamente pensou nos seus pais!
A mãe era enfermeira, mas quando não passava dias e
noites no trabalho dando plantão, ficava no quarto fofocando com as amigas no
zap e postando cartões no grupo da família. Não tinham muitos gostos em comum. O
pai, então, nem se fale! Depois do divórcio eles ainda conseguiam se ver aos
finais de semana, mesmo que não tivessem quase nada para conversar, mas depois
que ele casou outra vez e que teve outra filha do segundo casamento... nunca
mais tinham se falado, nem se visto. Durante quase todo o tempo, quando não
estava estudando no cursinho ou no curso de inglês, ficava sozinha em casa,
navegando em rede social ou em sites de relacionamento.
“Tem gente que pensa que a intimidade da gente
depende de tá perto, ou de tempo de convivência... mas não é nada disso. Pelo
menos no meu modo de ver: intimidade não é uma coisa que depende de quanto
tempo a gente tá perto ou tá longe. Tem gente que tá ali, bem próximo de você e
que a gente conhece a vida toda que não tem a mesma intimidade com alguém que a
gente acaba de encontrar, ou que tá distante de você e com quem a gente mal tem
contato”.
Sente a testa latejando na região da pancada. Passa
a mão e os dedos pressentem a saliência de um galo enorme! Droga! Pensou no que
iria dizer para minha mãe. Era melhor colocar logo uma compressa de gelo pra
ver se diminui esse galo assim que chegasse em casa.
Só o que faltava!
Além de ter batido com a cabeça, a Estranha ia lhe arranjar
problema com a sua mãe! Droga! Perguntava-se para onde estava indo. Será que
tava rolando uma calourada na Concha Acústica? Não parecia! Tinham passado por
lá na volta e não havia ninguém. Tudo normal... também não é comum ter
calourada no meio da semana! Pra onde será que a Estranha ia vestida daquele
jeito? Vai que ela ia encontrar com um crush também! Bem possível...
“Mas é foda oh! Bem que podia ter pedido desculpa
ou ter me ajudado. E se eu tivesse caído pro lado da rua e fosse atropelada?
Será que ela ia parar pra me ajudar ou teria continuado andando? Acho que ia
continuar... não que eu conhecesse... quer dizer... hoje em dia, claro que eu
não conheço... hoje pra mim ela é uma estranha...”
Hoje.
Só que antes...
“A vida agora é assim, né? Primeiro a pessoa é só
uma estranha, aí a gente conhece, fica amigo, fica íntimo, depois... volta a
ser estranho de novo! É o ciclo da intimidade! Uma hora ela é a pessoa mais
importante da sua vida... outra, passa por você na rua, dá uma trombada e não
para nem pra perguntar se você tá bem! Estranho – amigo- Estranho!”
Pensou que sua vida se dividia entre pessoas que
convivera durante a vida toda, mas que jamais chegou a conhecer de verdade e
aqueles que iam embora da sua vida depois de terem sido amigo, amiga, ficante,
namorado ou namorada por algum tempo.
Estranhos definitivos e amigos provisórios...
“Independente de quem for... todos ou partiram, ou
estão sempre indo embora...”
CONTINUA ....
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